INTRODUÇÃO
Café no banho-maria? A técnica Samo Bloom propõe exatamente isso: começar com uma pré-infusão morna (entre 55 °C e 70 °C) e só depois seguir com a extração tradicional em 90°C ou mais. O objetivo é preservar compostos voláteis que se perdem facilmente com o impacto inicial da água muito quente.
Nesse experimento, testamos a técnica na prática com um café Geisha, moagem ajustada no moedor 1ZPresso da K-Ultra no método Origame, tudo com nível campeonato. A ideia foi simples: fazer duas extrações, uma com e uma sem a técnica, e comparar xícara a xícara.
O resultado surpreendeu e a diferença no sensorial foi clara. Vem ver o que descobrimos!
Índice de Conteúdo
O que é a técnica Samo Bloom?
A técnica ficou conhecida através de Lance Hedrick, barista e youtuber que popularizou a abordagem baseada em estudos do cientista Smerk sobre volatilidade de compostos aromáticos.
Mas, na verdade, quem usou a técnica pela primeira vez no cenário competitivo foi Rubens Gardelli, campeão mundial de torra e vice-campeão mundial da Brewers Cup. Ele usou a pré-infusão morna em 62 °C no Mundial e desde então a técnica ganhou os holofotes entre baristas e geeks.
A teoria é simples: a água muito quente na pré-infusão dispersa compostos voláteis (florais, frutados, cítricos). Ao usar uma água mais morna nesse primeiro contato, conseguimos preservar esses compostos delicados, que depois serão extraídos na fase quente da infusão.
Como fizemos o teste
- Café: Geisha (perfil floral e frutado)
- Moagem: Feita no 1ZPresso K-Ultra
- Método: Origami
- Proporção: 20g de café / 300ml de água
- Pré-infusão: 50g de água a 62°C por 40s
- Fases seguintes: 150g e 100g com água a 92°C
- Tempo total de extração: 2min20
Importante: para aplicar a técnica corretamente, você precisa de duas chaleiras ou pelo menos um sistema que permita alternar rapidamente as temperaturas. No teste, usamos duas chaleiras elétricas para simular o cenário ideal.
Aplicação da Técnica Samo Bloom
Passo 1: Prepare o método normalmente
Escalde o filtro, aqueça o equipamento e pese o café.
Passo 2: Aqueça duas águas em temperaturas diferentes
Uma a 62 °C (para a pré-infusão)
Outra a 92 °C (para o restante da extração)
Se tiver apenas uma chaleira, aqueça primeiro a água morna e deixe a segunda chaleira esquentando com água quente separada para agilizar a troca.
Passo 3: Inicie a pré-infusão:
Despeje 50ml de água a 62 °C sobre o café moído, cobrindo toda a superfície. Aguarde 40 segundos.
Passo 4: Continue com a extração normalmente
Agora, adicione 150ml de água a 92 °C de forma controlada e circular. Após uma breve pausa, finalize com mais 100ml até completar os 300ml.
Tempo total de extração: cerca de 2 minutos e 20 segundos.
Passo 5: Homogenize e sirva
Misture o café suavemente na jarra antes de servir para garantir consistência sensorial.
Samo Bloom vs Extração Normal: o que muda na xícara?
Resultado na extração com a técnica Samo Bloom
- O bloom foi menos expansivo, ou seja, o dióxido de carbono ficou mais retido.
- Essa menor liberação de CO₂ pode contribuir para a preservação de compostos voláteis, como florais e frutados.
- A extração ocorreu em 2min20, de forma estável e controlada.
Aroma
- Floral muito mais evidente já na jarra, antes mesmo de provar.
- Notas de jasmim, flor branca e um toque de flor de laranjeira.
- Vapor suave, mais fácil de identificar os aromas — semelhante à experiência sensorial de campeonatos.
Sabor
- Doçura muito evidente, aparecendo com facilidade logo nos primeiros goles.
- Corpo cremoso, retrogosto limpo e floral.
- Acidez presente, mas frutada e equilibrada, contribuindo com a complexidade.
Resumindo, temos um café leve, doce e elegante. Os florais e frutados ficam preservados e aparecem com nitidez. Técnica recomendada para cafés de perfil sensorial delicado, como Geisha.
Extração convencional (sem técnica)
Todo o preparo com água a 92 °C, do início ao fim
- O bloom foi muito mais expansivo, liberando bastante CO₂ rapidamente.
- A extração terminou em 2min15, praticamente no mesmo tempo da anterior.
Aroma
- Mais agressivo, devido ao vapor quente intenso, dificultando a identificação dos aromas logo de cara.
- Ainda havia presença de florais, mas menos definidos e mais dispersos.
Sabor
- Doçura presente, mas menos destacada.
- Acidez mais aguda, com sensação de desequilíbrio sutil na primeira prova.
- Retrogosto frutado e marcante, mas com menor complexidade floral.
Por fim, temos uma xícara boa, mas as notas florais se perdem um pouco em comparação ao teste utilizando a técnica. A acidez se sobressai mais. Para cafés mais densos e menos aromáticos, pode funcionar bem, mas com Geisha, vale a pena a experiência de aplicar a técnica.
Comparando resultados
A diferença é real. Mesmo com um teste simples, fora do ambiente de competição, foi possível perceber com clareza:
Aspecto | Samo Bloom (Pré-infusão morna) | Extração Convencional (única temperatura) |
---|---|---|
Aroma | Floral intenso, notas vivas | Floral menos evidente, vapor agressivo |
Doçura | Alta e evidente | Média, menos destacada |
Acidez | Frutada e equilibrada | Mais acentuada |
Retrogosto | Limpo, floral persistente | Frutado, mas menos refinado |
Corpo/Cremosidade | Textura sedosa, cremosa | Boa cremosidade, porém menos sutil |
Complexidade | Alta | Média |
Todos que participaram da prova (inclusive a equipe de gravação) sentiram a diferença com clareza. A técnica Samo Bloom conseguiu preservar voláteis florais e frutados de forma mais perceptível, entregando uma experiência sensorial mais completa.
Considerações para o dia a dia
- Ideal ter duas chaleiras elétricas com controle de temperatura
- Se não for possível, opte por uma chaleira com recuperação rápida ou controle preciso
- A técnica faz mais sentido com cafés complexos, como Geisha, SL28, ou perfis com notas florais e frutadas
Não espere grandes diferenças em cafés de torra escura ou perfil mais achocolatado, esses compostos voláteis mais delicados simplesmente não estarão lá para serem preservados.
Vale a pena usar o Samo Bloom?
Se você é barista, competidor ou geek, a resposta é sim. A técnica funciona, é baseada em fundamentos químicos coerentes e entrega uma experiência sensorial refinada.
Agora, se o seu objetivo é apenas preparar um bom café no dia a dia, talvez o ganho não compense a complexidade. Mas vale o teste, principalmente se você quer impressionar nas rodas de degustação.
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