INTRODUÇÃO
O universo do café especial está sempre em movimento. A cada semana, surge um método novo, alguns elaborados, outros tecnológicos, muitos deles bem caros. É quase impossível acompanhar tudo, e a sensação é de que precisamos de uma coleção infinita de equipamentos para ficar por dentro das tendências.
Mas, no meio de tantas novidades sofisticadas, uma história chamou a atenção e virou pauta no mundo do café: um simples funil de mercado, daqueles que você usaria para transferir líquidos na cozinha, ganhou status de método de preparo oficial em campeonatos internacionais. Isso mesmo. Nada de vidro soprado, design escandinavo ou tecnologia de ponta. Um objeto barato, prático e nada glamouroso conseguiu surpreender juízes e viralizar nas redes sociais.
E foi assim que nasceu o chamado filtro IKEA, que deixou de ser apenas um utensílio doméstico para se transformar em mais uma forma de extrair café. A pergunta é: será que ele entrega uma xícara de qualidade ou é só mais uma curiosidade do mundo barista?
Índice de Conteúdo
1 – De funil de mercado a método de competição |
2 – Teste com dois filtros diferentes |
3 – Nossa recomendação |
De funil de mercado a método de competição
O que começou como uma ideia improvável ganhou status de inovação genuína no mundo do café. Durante a preparação para uma competição nacional na Indonésia, um barista buscava algo diferenciado, um método que realmente surpreendesse os juízes. Foi então que, ao caminhar por um mercado comum, encontrou um simples funil doméstico da IKEA (modelo UPPFYLLD), feito de plástico resistente capaz de suportar até 100 °C.
Ele comprou o funil, experimentou com filtros adaptados, ajustou a moagem, testou temperaturas e ótimo tempo de extração e, pasmem, funcionou. O barista conseguiu uma apresentação consistente, sabor agradável e técnica eficaz o suficiente para classificar-se entre os finalistas da Indonesia Brewers Cup (IBrC). Segundo relatos online, foi o funil de US$ 1 da IKEA que chegou à final e conquistou a 6ª colocação no torneio.
Essa improvável virada: de utensílio doméstico a ferramenta de competição. Além disso, o acontecimento viralizou nas redes e comunidades de café e o debate imediatamente se espalhou: “Será que desempenho é 70 % técnica e 30 % equipamento, ou vice‑versa?”.
O sucesso foi tão grande que o funil deixou de ser apenas uma ousadia isolada e ganhou vida própria. Hoje, já existem competições específicas dedicadas a ele, onde baristas se desafiam para ver quem consegue extrair o melhor café nesse método nada convencional. A brincadeira virou coisa séria: cada detalhe técnico, moagem, fluxo de água, tempo de infusão, passa a ser decisivo para transformar um utensílio simples de cozinha em protagonista de campeonatos de café especial.
Teste com dois filtros diferentes
Foi a Renata, seguidora e amiga digital do canal, que trouxe o funil da IKEA para o Brasil. E claro, não resistimos em testar. Afinal, será que dá mesmo para fazer um café de qualidade com algo tão simples?
O primeiro teste foi com filtro de V60 nº 2, adaptado para encaixar no funil. O segundo, com um filtro plano Kalita 155, que se ajustou perfeitamente. Para ambos, usamos nosso café perfil Blend, que mistura bourbon amarelo e vermelho em uma receita equilibrada de corpo, doçura e acidez.
Teste 1 | Funil com filtro V60 nº2
Preparação: para encaixar o filtro, foi preciso abrir levemente a costura lateral, como sugerido por baristas que já haviam testado o método. O porta-filtro foi colocado dentro de uma jarra para evitar sujeira, já que o fluxo de saída do funil é instável.
Receita utilizada:
- 20g de café (moagem grossa, clique 19 no Timemore C2)
- 300g de água a 92°C
- Tempo total de extração: 3 min 20s
Passo a passo
Passo 1
Escaldar o filtro para eliminar resíduos de papel.
Passo 2
Pré-infusão com 100g de água em movimentos circulares. O fluxo foi bem lento, confirmando a importância da moagem grossa.
Passo 3
Pausa de 30 segundos.
Passo 4
Segundo ataque de água até 200g, novamente em movimentos circulares.
Passo 5
Terceira adição até 300g, finalizando a percolação.
Resultado sensorial: café delicado, com acidez cítrica evidente e notas de frutas amarelas. Retrogosto marcante de caramelo tostado. Ideal para quem aprecia cafés mais vibrantes e aromáticos.
💡 Dica importante: como o fluxo pode travar dependendo da qualidade do filtro, é essencial ajustar a moagem, se estiver muito fina, o café não passa.
Teste 2 | Funil com filtro plano Kalita 155
Preparação: o filtro encaixou perfeitamente no funil, sem precisar de ajustes.
Receita utilizada:
- Mesma do teste anterior (20g de café, 300g de água a 92°C, moagem igual)
- Tempo total de extração: 2 min 40 s (mais rápido que o V60)
Passo a passo
Passo 1
Pré-infusão com 60g de água, cobrindo todo o pó. Pausa de 30 segundos.
Passo 2
Segunda adição de 170g de água em movimentos circulares, quebrando o “blooming” de café.
Passo 3
Terceira adição até 145g, respeitando o limite do filtro.
Passo 4
Última adição até 300g de água, finalizando a percolação.
Resultado sensorial: café mais encorpado, com doçura intensa e corpo cremoso. Notas de caramelo mais evidentes e acidez menor que no primeiro teste. Um perfil mais aveludado e redondo, perfeito para quem prefere equilíbrio ao invés de acidez vibrante.
💡 Dica importante: o formato plano do filtro oxigena mais as laterais, permitindo que a extração aconteça de forma mais rápida e uniforme.
O mais interessante desses testes é perceber como o mesmo café pode se transformar em duas bebidas completamente diferentes dependendo apenas do filtro. Um método barato, improvisado e até “engraçado” mostrou que, com conhecimento técnico, dá para chegar a resultados surpreendentes.
Nossa recomendação
Depois de toda essa experiência com o funil IKEA, a mensagem que fica é simples: o método importa, mas não é tudo. Mais importante do que investir em dezenas de equipamentos é garantir três pilares básicos:
Café de qualidade
Escolha grãos de origem confiável, bem torrados e que tragam notas sensoriais interessantes. Cafés especiais revelam suas melhores características em qualquer método, até mesmo em um funil de mercado.
Moagem na hora
Se existe um único investimento que realmente transforma sua experiência no café, esse investimento é um bom moedor. Quando você moe na hora, preserva os aromas voláteis, garante frescor e tem controle sobre a granulometria (grossa, média ou fina), algo essencial para ajustar o fluxo de extração.
Técnica consistente
Proporção de café e água, tempo de infusão, temperatura e até a forma de despejar a água influenciam diretamente no resultado. Dominar esses detalhes é o que diferencia um café mediano de uma xícara inesquecível.
Por fim, se você está começando sua jornada no café especial, não precisa sair comprando tudo o que aparece. Um bom café, um moedor confiável (já existem opções no mercado na faixa de R$300) e o cuidado em aplicar técnica já são suficientes para transformar sua rotina. O método pode variar: pode ser um V60, uma prensa francesa, uma Aeropress, ou até um simples funil da IKEA.
O segredo é experimentar, testar diferentes combinações e descobrir qual perfil sensorial mais agrada você. No fim das contas, cada método é só um caminho diferente para chegar ao mesmo objetivo: uma xícara de café saborosa, equilibrada e feita com atenção aos detalhes.
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