Como o Método de Preparo Influencia o Sabor do Seu Café

Entenda como o método de preparo influencia o sabor do seu café. Testamos o Melitta, V60, Prensa Francesa, Aeropress!

introdução

Você já preparou o mesmo café duas vezes — com o mesmo café, mesma água, mesma dose — e jurou que a bebida estava completamente diferente? Pois é, você não estava imaginando coisas. O método de preparo muda tudo.

A escolha entre V60, Prensa Francesa, Aeropress ou até o bom e velho Melitta não é apenas uma questão de estilo. Cada método extrai o café de um jeito diferente, realçando características específicas como acidez, corpo, doçura ou até aquele amargorzinho que a gente aprende a amar.

Neste artigo, vamos te mostrar, com base em um experimento prático, como cada método influencia o sabor final do café na sua xícara. E o melhor: com dicas que você pode aplicar na sua casa ou cafeteria para ajustar o método ao perfil de sabor que você mais curte, ou que mais agrada seus clientes.

Spoiler: depois de ler esse texto, você nunca mais vai olhar para os métodos de preparo do mesmo jeito.

   

Controlando Variáveis para Resultados Precisos

Para entender o impacto real de cada método no sabor do café, realizamos um experimento controlado, onde as seguintes variáveis foram padronizadas:​

  • Proporção
    Utilizou-se uma proporção fixa de 11g de café para 100g de água.
  • Temperatura da água
    Todos os métodos foram preparados com água a 92°C.
  • Café utilizado
    Um Blend equilibrado de Bourbon Amarelo e Vermelho, com notas de caramelo, baunilha e uma acidez cítrica suave.
  • Equipamentos
    Mesma água, xícara e moedor (Timemore C2) foram utilizados em todas as preparações.
  • Moagem
    Apenas a moagem foi ajustada conforme a necessidade de cada método.​

Essa abordagem permitiu uma análise precisa de como cada método influencia o perfil sensorial do café.​

   

Cupping: Estabelecendo a Referência Sensorial

Antes de explorar os métodos, fizemos um cupping (técnica padrão de degustação) para estabelecer uma referência sensorial do café utilizado. Vamos usar a numeração de 1 a 10 para identificar a intensidade de cada característica. Os resultados foram:​
  • Acidez: 5 (equilibrada)
  • Corpo: 5 (médio)
  • Doçura: 5 (balanceada)
  • Retrogosto: 6 (presente e agradável)
  • Amargor: 2 (baixo e suave)​
Esses valores serviram como base para comparar as variações provocadas por cada método de preparo.​
   

Melitta: Realçando a Acidez e o Amargor​

Dicas de preparo
Moagem
Média (clique 18 no Timemore C2)
Dose
20g
Água
220g
Tempo total
2min35s

Técnica

  1. Dobre o filtro (laterais)
  2. Escalde o papel
  3. Pré-infusão por 30 segundos
  4. Fluxo contínuo até os 220g
Melhor receita para o método Melitta
O método Melitta, amplamente utilizado em lares brasileiros, demonstrou:​
  • Acidez: 7 (mais pronunciada, lembrando tangerina)
  • Corpo: 4 (mais leve)
  • Doçura: 4 (reduzida)
  • Retrogosto: 7 (mais intenso, com notas de chocolate meio amargo)
  • Amargor: 3 (ligeiramente aumentado)​
A extração rápida e o filtro de papel contribuíram para uma bebida com acidez e amargor mais evidentes.
   

V60: Equilíbrio entre Doçura e Acidez​

Dicas de preparo
Moagem
Igual à do Melitta (clique 18)
Dose
20g
Água
220g
Tempo total
2min50s

Técnica:

  1. Pré-infusão de 30 segundos
  2. Fluxo em espiral, contínuo, até completar os 220g
Dicas de preparo para o método V60 café especial
Utilizando a mesma moagem do Melitta, o V60 apresentou:​
  • Acidez: 9 (vibrante, semelhante à tangerina)
  • Corpo: 4,4 (sedoso)
  • Doçura: 7 (notas de caramelo tostado)
  • Retrogosto: 6 (agradável, porém mais curto)
  • Amargor: 2 (baixo)​
Em outras palavras, a geometria do V60 e o controle do fluxo de água proporcionaram uma extração mais limpa e doce.​
   

Prensa Francesa: Corpo e Textura em Evidência​

Dicas de preparo
Moagem
Grossa (clique 30, semelhante a canjiquinha)
Dose
20g
Água
220g
Tempo total
5 minutos

Técnica:

  1. Adicione a água até o topo
  2. Mexa levemente após 1 minuto
  3. Tampe e aguarde até completar os 4 minutos
  4. Pressione com calma
Dicas de preparo para o método Prensa Francesa
Com moagem mais grossa (clique 30), a prensa francesa revelou:​
  • Acidez: 5,5 (ligeiramente aumentada)
  • Corpo: 5 (cremoso)
  • Doçura: 5 (mantida)
  • Retrogosto: 5 (presente, porém com partículas residuais)
  • Amargor: 2,6 (ligeiramente aumentado devido às partículas)​
A ausência de filtro de papel permite que óleos e partículas finas permaneçam na bebida, intensificando o corpo e o amargor.
   

Aeropress: Intensidade e Complexidade Sensorial

Dicas de preparo
Moagem
Média-grossa (clique 23)
Dose
20g
Água
220g
Tempo total
2min30s

Técnica:

  1. Escalde filtro e câmara
  2. Adicione água, mexa após 30 segundos
  3. Após 1min30s, tampe e inverta
  4. Pressione devagar
Dicas de preparo para o método Aeropress
A Aeropress, com infusão e pressão, proporcionou:​
  • Acidez: 10 (alta, lembrando limão-cravo)
  • Corpo: 9 (denso e cremoso)
  • Doçura: 8 (notas de bala de caramelo)
  • Retrogosto: 8 (longo e doce)
  • Amargor: 3 (baixo, com notas de caramelo tostado)​
A combinação de infusão e pressão resultou em uma bebida complexa e equilibrada.​
   

Escolhendo o Método Ideal para Seu Paladar

A escolha do método de preparo deve considerar as características que você deseja realçar no café:​
  • Para acidez vibrante: V60 ou Aeropress
  • Para corpo intenso: Prensa Francesa
  • Para doçura acentuada: V60
  • Para equilíbrio geral: Cupping como referência​
Lembre-se de que a moagem, a temperatura da água e a proporção também influenciam significativamente o resultado final.
   

Aprofunde Seus Conhecimentos

Para entender melhor como diferentes variáveis influenciam o sabor do café, vale a pena mergulhar em outros conteúdos. Por exemplo:

✔ No artigo “Tudo sobre Moagem”, explicamos como pequenas mudanças no tamanho da moagem podem transformar completamente sua experiência sensorial.

✔ Quer comparar todos os métodos de preparo lado a lado e entender qual combina mais com seu paladar ou cardápio? Criamos uma tabela comparativa de métodos de preparo exclusiva, atualizada constantemente, com os principais métodos e seus impactos sensoriais — acidez, corpo, doçura, amargor e retrogosto.

✔ Se você quer se aprofundar no papel da água na preparação, não deixe de conferir o post “Qual a melhor água para preparar o seu café?”. Esse é um tema frequentemente negligenciado, mas com impacto direto no sabor final da xícara.

✔ E se você está começando agora a se aventurar no mundo dos cafés especiais, o guia “O que é café especial” pode ser o seu ponto de partida ideal.

✔ Se você quer ver cada método sendo preparado na prática, com dicas de tempo, moagem e fluxo de água, te convidamos a explorar a playlist completa de tutoriais no nosso canal do YouTube. Tem Aeropress, Prensa Francesa, V60, Clever, Kalita, Origami e muito mais, tudo explicado de forma leve, técnica e didática.

   

Como Reproduzir Esse Teste em Casa ou na Sua Cafeteria

Quer testar por conta própria como o método influencia o sabor do seu café? Aqui vai um passo a passo simplificado com base no vídeo:
  1. Escolha um único café como referência. Preferencialmente um café equilibrado, com notas perceptíveis de acidez, corpo e doçura — como o nosso Blend.
  2. Defina a proporção. Use 11g de café para cada 100g de água.
  3. Controle a temperatura. 92°C é um bom ponto de partida.
  4. Adapte a moagem conforme o método.
  5. Deguste sempre na mesma xícara para evitar interferências visuais e sensoriais.
  6. Anote suas percepções. Use uma escala simples de 1 a 5 para avaliar acidez, corpo, doçura, retrogosto e amargor.
Esse exercício é incrível não só para o paladar, mas também para aprimorar a forma como você apresenta cafés aos seus clientes, se você trabalha com cafeteria. Afinal, oferecer uma bebida que realça o que o seu cliente mais aprecia (seja uma acidez vibrante, uma doçura sedutora ou um corpo encorpado) é uma estratégia poderosa de fidelização. Se você quiser acompanhar mais conteúdos sobre café e até testar os métodos junto com a gente, aproveite para se inscrever na nossa newsletter e receber os conteúdos mais recentes em primeira mão. E aí, qual método de preparo mais combina com você? Deixe nos comentários sua experiência ou sugestões de métodos que você gostaria de ver testados nos próximos vídeos!

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Gabriel Guimarães

Iniciou no universo dos cafés ao conhecer Hélcio Júnior, diretor da Unique Cafés, que o convidou para se tornar barista ao perceber a facilidade em comunição e paixão, ao ser atendido por ele em um bar onde o mesmo atuava como bartender.

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